Por Amanda Costa
para o Acerto de Contas
De uns tempos para cá temos ouvido muitas notícias sobre livros digitais, leitores eletrônicos portáteis, até a Apple lançou o tal do i-Pad, uma geringonça que quase ninguém está levando muita fé, pois parece ser tudo e, ao mesmo tempo, não é muito adequado para nada. Ninguém conseguiu identificar exatamente qual a demanda a qual o i-Pad deverá suprir, mas imagina-se que ele pretende abocanhar parte do mercado de livros digitais, dada a portabilidade e o formato parecido com o dos leitores recém-lançados.
Porém, nem só de leituras digitais vive a nova onda de novidades cibernéticas, mas também de muita escrita. E nem estou falando de blogs e microblogs, não. Falo de uma notícia curiosíssima que saiu na coluna de tecnologia de um grande portal brasileiro de conteúdo noticioso: a produção literária da chamada terceira idade.
Isso mesmo. Os nossos velhinhos estão se tornando os novos autores de uma literatura que parece ter tudo para se estabelecer no cibermundo. Quer dizer, “nossos” velhinhos, não. Esse fenômeno, infelizmente, ainda não está se dando no Brasil, mas em alguns dos países que costumam ter ótimos desempenhos no PISA, aquele exame internacional que a cada 3 anos compara os sistemas de ensino de 41 países, e no qual o Brasil sempre aparece entre os piores.
Os países em questão são os que formam a Grã-Bretanha (oi Teno). Os velhinhos rosados, bem-educados e agasalhados naquele cantinho nublado da Europa estão descobrindo que a terceira idade pode ser mais interessante e produtiva com o auxílio da internet. Segundo estudo feito pela instituição de caridade Booktrust, 93% dos britânicos acima dos 60 anos considera a internet uma revolução positiva. É um contraste curioso que pode ser feito com o resultado de nossa última Pnad, cujos dados revelaram que 32% dos brasileiros não acham necessário ou não querem acessar a internet. E esses 32% correspondiam justamente aos brasileiros de idade mais avançada.
Voltando aos dados da pesquisa da Booktrust, 55% dos britânicos acima dos 60 anos declararam que a internet é crucial nas suas vidas, e 31% têm vontade de publicar contos na internet. Vejam que coisa bacana!
Na Grã-Bretanha existe uma rede social para publicação de obras chamada HarperCollins Authonomy, e, segundo o diretor da rede, Mark Johnson, o número de pessoas com mais de 50 anos vem aumentando. Ele acredita que as pessoas mais velhas têm mais tempo, mais experiência e mais confiança para “compartilhar suas paixões on-line”.
Outros projetos de redes sociais para leitores e escritores acima dos 60 anos já começam a pipocar pela Grã-Bretanha, mostrando que os velhinhos britânicos não apenas estão se apropriando do uso do computador, mas aproveitando-o de forma espetacular.
Sei que estou devendo um post sobre projetos de inclusão digital para terceira idade no Brasil, e ele virá, mas desconfio que as notícias talvez não sejam tão animadoras quanto as que vêm do outro lado do Atlântico.
De toda forma, vamos torcer para que os nossos anciãos estejam também começando a tomar gosto e a ter as possibilidades de acesso à internet que podem fazer essa fase da vida muito mais interessante, divertida e produtiva. Lan houses especializadas no público da terceira idade, com instrutores e uma proposta de inclusão focada nas necessidades dessa clientela seria uma idéia interessante. Será que isso já existe?
Amanda Costa é designer educacional, graduanda em Pedagogia pela UFPE, aspirante à mestranda em Educação Tecnológica e autora do site Educação Interativa Multimídia
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