quinta-feira, 21 de julho de 2011

Opinião: Exame da OAB faz pensar se faculdades oferecem bom preparo


Nos dois últimos exames, cerca de 90% dos candidatos foram reprovados.
Prova é necessária para garantir qualidade dos profissionais.


Vivemos numa época em que o acesso a um curso superior tornou-se algo bastante acessível. Antigamente, esse era um privilégio de poucos, daqueles que realmente podiam se dedicar a um estudo, por terem tempo ou condições financeiras.
A necessidade de ir para o mercado de trabalho logo cedo impediu que muitos prosseguissem nos estudos. A profissão ou negócio do pai era uma opção razoável. Sem contar os preços das faculdades, bastante caras, o que dificultava ainda mais. Ser doutor era para poucos.
Entre esses doutores, uma área muito desejada era a de advocacia. Carreira importante, de respeito e que garantia um bom sustento à família.
Hoje, para muitos, fazer faculdade ainda não passa de um sonho, por vezes proibido. Para os que se permitem tê-lo, com um pouco de empenho e muita força de vontade, ter um curso superior tornou-se algo possível.
Ofertas não faltam. Houve um crescimento estrondoso do número de faculdades em nosso país. Isso, qualquer um pode perceber. Principalmente nos grandes centros – todo mundo mora perto de alguma.
Só para termos uma ideia, o número de cursos de direito cresceu 67% em oito anos no Brasil, com um total de 1.174. Os preços são os mais variados. Muitas vezes, as aulas são noturnas, permitindo que as pessoas trabalhem e estudem. Esse quadro é bastante interessante. Todos têm que ter a chance de estudar e de evoluir. De verdade.

No entanto, um crescimento tão grande deixa em dúvida a qualidade desses cursos. Não só o de direito, mas de todos eles. A pedagogia também tem muitas ofertas de faculdades.
Na área do direito, existe um ponto que parece garantir a qualidade. É o Exame de Ordem da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Para que o indivíduo formado em direito possa advogar, é necessário que passe nessa prova. Imagina-se que um recém-formado (aqueles que farão tal prova), mesmo tendo feito um bom curso, ainda terá muito que aprender com a profissão. O que vem com a prática.
Isso, porém, tem trazido uma preocupação. Nos dois últimos exames realizados pela OAB, cerca de 90% dos candidatos foram reprovados. As provas foram consideradas muito difíceis, inclusive por profissionais experientes. O que nos coloca a seguinte questão: ou as faculdades estão preparando muito mal seus alunos ou essa avaliação não está considerando o que realmente se aprende nelas (o que se espera, tenha um controle do MEC) e o que deve se esperar de um advogado recém-formado. Faculdade e exame parecem estar em dimensões diferentes.
E com isso, surgem os cursos preparatórios para a realização da prova. O que levanta outra questão: qual a utilidade de se fazer a faculdade, de se estudar cinco anos, se para realizar tal exame, é necessário fazer outro curso?
Ora, tudo acontece no mesmo território e, se supõe, com os mesmos parâmetros. Se não, teremos dois pesos e duas medidas.
É necessário fiscalizar e exigir um mínimo de preparo para se exercer a advocacia ou qualquer outra profissão. Função exercida pelo exame da OAB, que pode, inclusive, ajudar as faculdades a melhorar seus cursos. Sem se esquecer que estão avaliando recém-formados.
A manutenção da qualidade das faculdades é da competência do MEC, que por sua vez, deve ser mais criterioso na hora de abrir cursos superiores em cada esquina.
O que não dá é iludir o cidadão de que ele é um advogado, sem que ele realmente possa advogar ou ter condições para isso.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

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