1ª) INTERVIU ou INTERVEIO?
Estava escrito numa campanha publicitária: “…os proprietários invadiram a Companhia, expulsaram os jesuítas e tentaram organizar um governo local. O Governo INTERVIU. A Companhia acabou…”
O leitor tem razão. Está errado. O verbo INTERVIR é derivado de VIR. Se ele VEIO, ele INTERVEIO.
A forma verbal interviu não existe.
Vamos recordar a regrinha:
Os verbos derivados de VER (=rever, prever, antever…) seguem o verbo VER:
Eu vejo > eu revejo, prevejo, antevejo;
Eu vi > eu revi, previ, antevi;
Ele viu > ele reviu, previu, anteviu;
Se eu visse > se eu revisse, previsse, antevisse;
Quando eu vir > quando eu revir, previr, antevir;
Os verbos derivados de VIR (=intervir, provir…) seguem o verbo VIR:
Eu venho > eu intervenho, provenho;
Eu vim > eu intervim, provim;
Ele veio > ele INTERVEIO, proveio;
Se eu viesse > se eu interviesse, proviesse;
Quando eu vier > quando eu intervier, provier.
2ª) RÁPIDO ou RÁPIDA?
Leitor quer saber se a frase “A bola tem que chegar rápida ao ataque” está certa.
Não é a bola que é rápida. RAPIDAMENTE é o modo como a bola deve chegar ao ataque. Trata-se, portanto, de um advérbio de modo. Não devemos esquecer que os advérbios são invariáveis (=não se flexionam).
Isso tudo significa que a concordância está errada. Devemos dizer que “a bola deve chegar RÁPIDO ao ataque”. Melhor ainda: “a bola deve chegar RAPIDAMENTE ao ataque”.
3ª) IRIAM IR ou IRIAM?
Estava escrito num bom jornal: “Inicialmente, os dois programas iriam ir ao ar depois da novela das oito”.
Leitor achou a frase muito estranha. Eu também. Bastaria dizer que “os dois programas IRIAM ao ar depois da novela das oito”.
Esse caso me fez lembrar a mania que alguns têm em usar “eu vou ir”.
Pior ainda é caso do “eu vou vim”. Aí, é dose! Ou você vai ou você vem. Na verdade ele queria dizer “eu vou vir”. Não sei por que complicar. É muito mais simples dizer: eu IREI e eu VIREI.
4a) COMEÇEI ou COMECEI?
Leitora apaixonada pela Língua Portuguesa demonstra toda a sua indignação por causa de um começei (com cedilha) que ela encontrou num texto jornalístico.
Concordo inteiramente com a nossa leitora: é um absurdo! Na lingual portugesa, não existe palavra alguma em que o “ç” apareça antes das vogais “i” e “e”. A função da cedilha é manter o som da letra “c” diante das vogais “a”, “o” e “u”: COMEÇAR, AÇAÍ, PALHAÇO, ALMOÇO, IGUAÇU, AÇÚCAR…
Observe algumas curiosidades:
ALCANÇAR, mas o ALCANCE, que nós ALCANCEMOS…
ESBOÇAR, ESBOÇO, mas que você ESBOCE…
COMEÇAR, COMEÇO, mas que eu COMECE, eu COMECEI…
5a) ESQUECER ou ESQUECER-SE?
As duas formas são corretas. Devemos ter cuidado com a regência:
Quem ESQUECE esquece “alguma coisa”, mas quem SE ESQUECE se esquece “DE alguma coisa”. ESQUECER é transitivo direto; ESQUECER-SE é transitivo indireto.
Nós temos, portanto, duas opções:
“Eu esqueci a caneta” ou
“Eu me esqueci da caneta”.
Observe outro exemplo:
“Não esqueçam que a festa será no próximo dia 25″ ou
“Não se esqueçam de que a festa será no próximo dia 25″.
6a) AVISOU QUE ou AVISOU DE QUE?
A frase que gerou a dúvida é: “O professor avisou aos alunos de que já era tarde”.
O verbo AVISAR é transitivo direto e indireto. Há duas opções:
1a) AVISAR alguma coisa a alguém:
“O professor avisou AOS alunos QUE já era tarde.” Ou
2a) AVISAR alguém DE alguma coisa:
“O professor avisou OS alunos DE QUE já era tarde.”
O problema da frase é que havia dois objetos indiretos: “O professor avisou AOS alunos (=objeto indireto) DE QUE já era tarde (=outro objeto indireto). Ou você tira a preposição “a”: “…avisou OS alunos (=objeto direto) DE QUE já era tarde (=objeto indireto)”; ou você tira a preposição “de”: “…avisou AOS alunos (=objeto indireto) QUE já era tarde (=objeto direto)”.
Dúvidas dos leitores
1ª) JUNTO ou JUNTOS?
A palavra JUNTO só apresenta flexão (feminino ou plural)
quando é adjetivo. Observe alguns exemplos:
“As duas velhinhas moram JUNTAS.”
“Os livros estão JUNTOS na estante da esquerda.”
As locuções prepositivas JUNTO A e JUNTO DE (=perto de, ao
lado de) são invariáveis.
“A sala de reuniões fica JUNTO AO ambulatório.”
“Os livros estão JUNTO DA estante da esquerda.”
Observação:
Sou contra o uso da palavra JUNTO fora do seu real significado (=colado, unido, ao lado):
“Contraiu um empréstimo junto ao Banco do Brasil”. Só se foi no
vizinho! Na verdade, ele contraiu o empréstimo NO Banco do Brasil.
“Só resolverá o problema junto à diretoria da empresa”. Deve
ser no banheiro que fica ao lado!! Devemos resolver o problema COM a diretoria da empresa.
“Palmeiras contratou o zagueiro junto ao Flamengo”. Agora fiquei em dúvida. Terá sido no posto de gasolina Mengão, no Ciep que fica próximo ou no Hospital Miguel Couto? É brincadeirinha. Bastaria dizer que o Palmeiras contratou o zagueiro do (ou “ao”) Flamengo.
2ª) ESTE ou ESSE?
1o) Quando nos referimos ao “tempo presente”, devemos usar ESTE:
“NESTE momento, está chovendo no Rio de Janeiro.” (=agora)
“Ele deve entregar o proposta NESTA semana.” (=na semana em que estamos)
“Não haverá futebol NESTE domingo.” (=hoje)
“O pagamento deverá ser feito NESTE mês.” (=mês em que estamos)
2o) Quando nos referimos a algo citado anteriormente, devemos usar ESSE:
“Tudo ia bem até a 25a volta, NESSE momento houve um grande acidente.”
“Ele pouco se dedicava ao projeto, por ISSO foi dispensado.”
Observe alguns exemplos inadequados:
“Pelé chega de Nova Iorque NESSA semana.” (= Não se falou anteriormente de outra semana. Só pode ser NESTA semana);
“Com os nervos à flor da pele desde o início DESSA semana, os operadores mostravam-se exaustos ontem.” (= Se os operadores estavam exaustos “no dia anterior”, é porque o autor referia-se ao início DESTA semana);
“Mas, o que se diz no Palácio do Planalto é que, NESSE momento, lavar a roupa suja em público só ajuda mesmo a uma pessoa.” (= O autor referia-se ao momento atual. Deveria ter usado: “NESTE momento”);
“Depois DESTA pobre e pequena diversão.” (O autor referia-se ao que acabara de dizer. Deveria ter dito: “Depois DESSA pobre e pequena diversão”).
3ª) Camisas ROSAS ou ROSA?
O certo é: CAMISAS ROSA
Um substantivo, no papel de adjetivo, torna-se invariável (=não se flexiona em gênero e número).
ROSA é o nome (=substantivo) de uma flor. Se nós usarmos como cor (=adjetivo), torna-se invariável:
Blusão (=masculino) ROSA (feminino);
Camisas (=plural) ROSA (singular).
Observe que a palavra ROSA, quando usada como cor (=no papel de adjetivo), é sempre ROSA (=sem masculino nem plural).
Vejamos outros exemplos:
Camisas LARANJA, casacos VINHO, blusas CREME, sapatos AREIA, calças CINZA, GELO, TIJOLO, ABACATE, LIMÃO…
4a) Por que AJUDÁ-LO, RECEBÊ-LO e DIVIDI-LO?
Leitora quer saber o porquê dos acentos.
Em português, as palavras oxítonas só recebem acento gráfico se terminarem em “o”, “e”, “a”: compô-la, propô-lo, recebê-lo, vendê-la, ajudá-lo, procurá-la…
As oxítonas terminadas em “i” e “u” não recebem acento gráfico: dividi-lo, adquiri-la, servi-los…
É importante lembrar que deveremos usar o acento agudo, caso as vogais “i” e “u” formem hiato com a vogal anterior: destruí-lo, contruí-la, distribuí-los, atraí-las, possuí-lo…
5a) RÉIS ou REAIS?
É possível que muitos brasileiros não saibam que não é a primeira vez que a nossa moeda se chama REAL.
Na vez anterior, o plural do REAL era RÉIS.
Entretanto, o plural da nossa moeda atual é REAIS.
Devemos, portanto, dizer: um REAL, mas dez REAIS.
Dúvidas dos leitores
1a) ABAIXO-ASSINADO ou ABAIXO ASSINADO ?
a) ABAIXO-ASSINADO, com hífen, é o documento assinado por muitas pessoas que reivindicam alguma coisa. Seu plural é abaixo-assinados.
“Os alunos entregaram o abaixo-assinado ao diretor da escola.”
b) ABAIXO ASSINADO, sem hífen, indica a pessoa que assina o documento.
“Sérgio Nogueira, abaixo assinado, vem solicitar a Vossa Senhoria que autorize…”
2a) Eu ABULO ou eu ABOLO ?
É a famosa dúvida do nada com coisa alguma. ABOLIR é verbo defectivo. Só pode ser conjugado nas formas em que, após o radical, aparecem as letras “e” ou “i”.
Observações:
a) No presente do indicativo: eu (não existe), tu aboles, ele abole, nós
abolimos, vós abolis, eles abolem;
b) No presente do subjuntivo: não existe forma alguma;
Existem outros verbos que apresentam um problema semelhante ao do ABOLIR: colorir, demolir, explodir, extorquir, latir…
Portanto, se você quisesse dizer que “é necessário que se demula ou demola a parede”, a solução é buscar um verbo sinônimo: “É necessário que se DESTRUA (ou DERRUBE) a parede”.
É interessante observar também que não existem as formas: eu demulo, eu explodo, eu extorco, eu coloro, eu lato. A solução é um verbo sinônimo ou uma locução verbal : estou demolindo, estou explodindo, estou extorquindo, estou colorindo, estou latindo…
3a) ACIDENTE ou INCIDENTE ?
a) ACIDENTE: acontecimento imprevisto, desastre.
“Acidente entre dois trens provoca morte de cem pessoas.”
“Acidente na hidrelétrica provoca blecaute em São Paulo.”
b) INCIDENTE: circunstância, casual, episódio, atrito.
“Incidente entre parlamentares paralisa votação.”
4a) A CORES ou EM CORES ?
Como os antigos aparelhos de TV eram “em preto e branco”, prefiro EM CORES. É bom lembrar que os filmes sempre foram “em cores”.
5a) Acostumado A ou COM ?
Tanto faz.
“Ele já está acostumado AO calor (ou COM o calor).”
6ª) Concordância com PERCENTAGENS
“Em Recife, 26% da população TROCA ou TROCAM a escova de dentes por métodos pouco convencionais.”
Para a maioria dos autores, é um caso facultativo:
a) O verbo pode concordar com a percentagem plural: “26% …
TROCAM…”;
b) O verbo pode concordar com o especificador (população) no
singular: “26% da população TROCA…”
Não é um caso de certo ou errado. É uma questão de padronização. Nós preferimos a concordância com o especificador, principalmente quando o verbo é de ligação ou está na voz passiva: “26% da população ESTÁ DESABRIGADA”.
7ª) Emití-la ou emiti-la? Serví-lo ou servi-lo?
O certo é EMITI-LA e SERVI-LO (sem acento agudo).
As palavras oxítonas terminadas em “i” não recebem acento agudo: abacaxi, Parati, aqui, caqui, tupi, guarani, adquiri-la, dividi-lo, emiti-la, servi-lo…
As palavras oxítonas terminadas em “i” só recebem acento agudo se houver hiato com a vogal anterior: Icaraí, caí, saí, açaí, Piauí, Chuí, destruí-la, construí-lo, distribuí-los…
8ª) BASTANTE ou BASTANTES?
a) BASTANTE (=muito ou suficientemente) é advérbio de intensidade. É uma forma invariável (=não vai para o plural):
“Os empregados se esforçaram BASTANTE.” (=muito ou suficientemente)
“Eles são BASTANTE esforçados.” (=muito)
“Os espectadores saíram BASTANTE satisfeitos.” (=muito)
b) BASTANTES (no plural) só é possível se estiver junto a um substantivo plural.
Pode ser pronome adjetivo indefinido (=muitos):
“Os alunos estão com BASTANTES problemas para resolver.”
Considero essa forma horrorosa. Sugiro que não seja usada. Prefira: “…MUITOS problemas…”;
Pode ser adjetivo (=suficientes):
“Ele já tem provas BASTANTES para incriminar o réu.” (=suficientes)
“Fulano de Tal constitui como seus BASTANTES procuradores…”
Dúvidas dos leitores
1ª) AUTO ou ALTO?
1) ALTO é o contrário de BAIXO. Pode ser adjetivo ou advérbio. Observe os exemplos:
“Ele é um homem alto.” (x homem baixo – adjetivo);
“O som estava muito alto.” (x som baixo – adjetivo);
“Gostei do alto-relevo.” (= relevo alto - adjetivo);
“Desligou os altos-fornos.” (adjetivo);
“O diretor sempre falava alto.” (x falava baixo – advérbio);
“Comprei quatro alto-falantes.” (advérbio).
2o) AUTO é um prefixo de origem grega que significa “a si próprio, a si mesmo”. Tem uma ideia reflexiva. O automóvel foi assim chamado porque “movia a si próprio” ( = dispensava a tração animal). Autocontrole é ter o controle de si mesmo. Autodidata é o que aprende sozinho, ensina para si mesmo.
Portanto, é impossível “você fazer a autobiografia do seu melhor amigo”. E é redundante “você fazer a autobiografia de si mesmo”. Ou você faz a sua autobiografia ou você faz a biografia do seu melhor amigo.
2ª) Horas ou H ou HS ou h ou hs?
São tantos leitores perguntando, que resolvi voltar ao assunto.
1o) Horas deve ser abreviado com letra minúscula ( = “h”): “A reunião será às 3h.” O “H” (maiúsculo) é o símbolo do hidrogênio.
2o) Não faz plural: “A reunião será às 3h”, e não “…às 3 hs“.
3o) Devemos escrever horas por extenso quando nos referimos à duração: “Eles estiveram reunidos durante três horas”.
4o) Não há a necessidade dos “00″ para indicar os minutos. Não precisamos usar “3:00h“. Se houver minutos, podemos abreviar com “min”: “A reunião será às 3h30min”. Para mim, bastaria 3h30.
Observe a diferença:
“A reunião vai das 8h às 10h.” (A reunião começará às 8h e terminará às 10h);
“A reunião vai de oito a dez horas.” (A duração da reunião será aproximadamente entre oito e dez horas).
Vejamos agora um exemplo curioso enviado por um leitor:
“Este evento ocorrerá às 19 e 20 horas.”
Parece haver dois horários possíveis para o evento: às 19h e às 20h. A verdadeira informação era: “Este evento ocorrerá às 19h20min.”
3ª) VERBOS PRONOMINAIS
Leitora faz um alerta: “É iminente a extinção dos verbos pronominais”. Observe a lista de exemplos. Você já deve estar tão acostumado a ouvir, que talvez nem sinta falta do pronome:
“Como você chama?” (Como você se chama?)
“O autor chama José de Alencar.” (O autor se chama José de Alencar.)
“Eu formei em engenharia.” (Eu me formei em engenharia.)
“Eu machuquei.” (Eu me machuquei.)
“Eu gripei.” (Eu me gripei.)
“O jogador está aquecendo.” (O jogador está se aquecendo.)
“O Brasil classificou.” (O Brasil se classificou.)
Por outro lado, também ocorre o uso desnecessário do pronome. Durante as transmissões dos jogos da Copa, tivemos o dissabor de ouvir um dos nossos locutores afirmar: “O atacante escorregou-se“.
Isso, provavelmente, foi para ser bem claro: o atacante não foi empurrado; ele caiu sozinho. É preciso buscar a “lógica” do raciocínio. Portanto, se o atacante escorregar de novo, “ele se escorregou-se“.
Estou brincando, é claro. Basta: “O atacante escorregou”.
4ª) Referia-se à ou a Vossa Excelência?
Todos nós aprendemos na escola que não ocorre crase antes de pronomes de tratamento. O certo é: “Referia-se a Vossa Excelência”.
Por quê?
Porque não há artigo definido “a” antes dos pronomes de tratamento femininos que podem ser usados para substituir tanto mulheres quanto homens: Vossa Excelência, Vossa Senhoria, Vossa Majestade, Vossa Alteza, você…
Caso o pronome de tratamento seja feminino e sirva só para substituir mulheres, pode ocorrer a crase:
“Referia-se à senhora (=ao senhor);
à doutora (=ao doutor);
à Ilustríssima… (=ao Ilustríssimo…);
à Meritíssima… (=ao Meritíssimo…);
à senhorita, à madame …
5ª) “À ou A realizar-se no dia 8 de dezembro…”?
Para que o seu convite de casamento não apresente erros gramaticais que possam provocar risinhos de algum convidado mais exigente, escreva:
“A realizar-se no dia 8 de dezembro…”
Parabéns pelo seu casamento, e não esqueça: antes de verbo é impossível ocorrer crase, porque jamais haverá artigo definido “a” antes de verbo.
Dúvidas dos leitores
A VÍRGULA
Saída das profundezas do inferno, hoje, com vocês, a maldita: a vírgula.
Sem dúvida, o uso da vírgula é uma das nossas maiores desgraças. Pontuação é coisa séria. Um erro de pontuação é muito pior que um acento indicativo da crase mal usado, que uma preposição esquecida ou um hífen usado indevidamente.
Uma vírgula esquecida ou mal usada afeta o sentido da frase. A maldita pode mudar o sentido ou deixar a frase sem sentido. Observe a importância da vírgula no exemplo abaixo:
“Os técnicos foram à reunião acompanhados da secretária do diretor e de um coordenador.”
Sem vírgula, entendemos que os técnicos foram à reunião com mais duas pessoas: a secretária do diretor e um coordenador.
Se usarmos uma vírgula, mudaremos o sentido da frase:
“Os técnicos foram à reunião acompanhados da secretária, do diretor e de um coordenador.”
Agora, os técnicos foram à reunião com três pessoas: a secretária (que não deve ser a do diretor), o diretor e um coordenador. A presença do diretor na reunião é uma novidade. Vejam como a vírgula é poderosa: é capaz de fazer o diretor ir à reunião.
Muitos me perguntam: a vírgula, afinal, é ou não uma pausa?
Todos nós, quando fomos alfabetizados, aprendemos que a vírgula é uma pausa e que sua presença significa que devemos “dar uma paradinha” (para respirar, para tomar fôlego).
Até aqui, tudo bem. Espertinho é o adulto que deu outra interpretação: “eu só ponho vírgula quando respiro”.
Ora, se isso fosse verdade, seria uma desgraça. Imagine o cara que sofre de dispneia: seria uma vírgula atrás de outra. Ou, então, um mergulhador, com um fôlego extraordinário. Bem, nesse caso, seriam dez linhas sem uma vírgula sequer.
Estou exagerando, eu sei. Mas vamos aos fatos. Já deve ter acontecido com você. Veja se não é verdade. Você começa a escrever. Se chegar ao fim da segunda linha, ao início da terceira e, até ali, não aparecer nenhuma vírgula, cria-se uma angústia interior, uma coceira irresistível na mão, que você não resiste. Joga umas duas vírgulas para cima e que Deus ajude.
Bem, apesar das brincadeiras, a vírgula merece muito respeito. Ao estudarmos o uso da vírgula, o mais difícil está no fato de a maioria das regras não ser rígida. Não é um simples caso de certo ou errado: aqui a vírgula é proibida, ali é obrigatória.
Em muitos casos, o professor é obrigado a responder: “depende do sentido” ou “é facultativo” ou “pode usar, mas não é obrigatório” ou “depende do estilo” ou outras respostas que geralmente deixam o aluno insatisfeito, inseguro ou até irritado. É muito difícil ensinar o “depende”.
Vejamos alguns casos.
Todo aposto explicativo deve ficar entre vírgulas:
“O prefeito de Campos, Asdrúbal da Silva, rejeitou o projeto.”
Não esqueça que as vírgulas são obrigatórias sempre que o cargo for exclusivo.
As vírgulas não devem ser usadas se o cargo pode ser ocupado por mais de uma pessoa:
“O professor Asdrúbal da Silva rejeitou a minha idéia.”
Guarde a “dica”:
a) Entre vírgulas: cargo exclusivo de uma pessoa;
b) Sem vírgulas: cargo que pode ser ocupado por várias pessoas.
Observe os exemplos:
“O governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, declarou…”
“O atual técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, disse…
“O síndico do edifício assaltado, o aposentado Jarbas de Sousa, afirmou…”
“O governador Sérgio Cabral declarou…
“O ex-técnico da seleção brasileira Telê Santana disse…”
“O general da reserva Astolfo Antunes afirmou…”
DÚVIDA DO LEITOR
Em “Os empregados desta empresa QUE SE DEDICARAM MUITO AO TRABALHO deverão receber um abono salarial”, a oração em destaque deve ou não ficar entre vírgulas?
Se a ideia for restritiva ( = só aqueles que se dedicaram muito ao trabalho deverão receber um abono salarial), não devemos usar as vírgulas.
Se a ideia for explicativa ( = todos os empregados se dedicaram ao trabalho, por isso deverão receber um abono salarial), as vírgulas são obrigatórias.
Portanto:
a) ”Os empregados desta empresa que se dedicaram muito ao trabalho
deverão receber um abono salarial.” (oração subordinada adjetiva restritiva = somente os empregados que se dedicaram muito ao trabalho receberão um abono salarial);
b) ”Os empregados desta empresa, que se dedicaram muito ao trabalho,
deverão receber um abono salarial.” (oração subordinada adjetiva explicativa = todos os empregados se dedicaram ao trabalho e receberão um abono salarial).
Vícios do futebolês
1) CLICHÊS
São expressões batidas e repetitivas que empobrecem o estilo. Evite:
1. Ao apagar das luzes, o Palmeiras conseguiu dar a volta por cima e, finalmente, fez as pazes com a vitória.
2. O dirigente respondeu em alto e bom som.
3. Via de regra, esse tipo de notícia estoura como uma bomba na federação.
4. É preciso aparar as arestas e chegar a um denominador comum.
5. Foram dar o último adeus ao companheiro, mas foram obrigados a dizer cobras e lagartos para o administrador do cemitério.
6. A explicação do técnico deixou a desejar.
7. Nada vai empanar o brilho da sua conquista.
8. Sua contratação veio preencher uma lacuna.
9. Pretendem encerrar o torneio com chave de ouro.
10. O atacante estava completamente impedido.
11. O todo-poderoso Manchester United perdeu para um desconhecido clube da terceira divisão.
12. A festa não tem hora para acabar, mas amanhã o carioca volta à dura realidade.
13. São imagens impressionantes que nos deixam uma lição de vida.
14. Mas nem só de gols vive o atacante.
15. O brasileiro finalmente poderá realizar o sonho do hexacampeonato.
16. Resta saber se a direção do Flamengo vai pôr a ideia em prática.
17. Bandidos fortemente armados invadiram o banco e transformaram o saguão numa verdadeira praça de guerra.
18. As torcidas transformaram a arquibancada num verdadeiro caos.
19. A Arena da Baixada virou um verdadeiro caldeirão.
20. As ruas viraram verdadeiros rios, e o barco era o único meio de transporte.
21. E o Atlético continua sua via crucis.
22. A fúria da natureza deixou um rastro de destruição.
23. O craque foi recepcionado por um batalhão de repórteres e cinegrafistas.
24. A ousadia dos traficantes não tem limites.
25. Para você ter uma idéia, foram sete pênaltis a favor em dez jogos..
26. Cinco times ainda lutam para fugir do fantasma do rebaixamento.
27. Neste ano, o título bateu literalmente na trave.
28. Estava literalmente impedido.
29. Muricy, durante a entrevista, estava literalmente sem saco.
30. O Vasco adentra o campo de jogo.
31. Com esta vitória, ele está carimbando o passaporte para o Mundial.
Clichê é o mesmo que chavão ou lugar-comum. Deve ser evitado para não caracterizar pobreza de estilo. Observe mais exemplos: acertar os ponteiros, rota de colisão, monstro sagrado, lenda viva, apertar os cintos, bola da vez, chover no molhado, cair como uma luva, de mão beijada, divisor de águas, página virada, tecer comentários, requintes de crueldade, vias de fato, tiro de misericórdia, agradável surpresa, calor senegalesco, ente querido, inteiro dispor, obra faraônica, sonho dourado, precioso líquido, profissional do volante, soldado do fogo, tapete verde, sonho vira pesadelo, pessoa humana, fazer o dever de casa, faz parte…
REDUNDÂNCIAS
Devem ser evitadas. Use apenas quando houver a intenção de ênfase:
1. “O empate acabou acontecendo no intervalo entre as expulsões.” (= Basta: “O empate acabou acontecendo entre as expulsões”);
2. “Deve usar dados estatísticos para consultas e pesquisas, como, por exemplo, o total de gols marcados na última Copa do Mundo.” (= Basta: “…como o total de gols marcados na última Copa do Mundo”);
3. “Ele acha que a atleta está sendo muito exigente consigo mesma.” (= Basta: “Ele acha que a atleta está sendo muito exigente consigo”);
4. “O técnico vai manter o mesmo time no jogo contra o Vasco.” (= Basta manter o time);
5. “O contrato foi assinado com o consenso de todos os envolvidos.” (= Basta consenso dos envolvidos);
6. “Foi contratado para ser a ponte de ligação da defesa com o ataque.” (= Basta: “Foi contratado para ser a ponte ou fazer a ligação …”);
7. “Não foge ao fato concreto de que sem Ronaldo não poderia nem sonhar.” ( fato real, fato verídico, fato acontecido também são redundâncias – basta dizer fato);
8. “Há muito tempo atrás, li num jornal.” (= Basta: “Há muito tempo, li num jornal”);
9. “Ele, nas duplas, não perdeu nem um set sequer.” (= Basta: “Ele, nas duplas, não perdeu um set sequer”);
10. “Fernando Henrique fez uma previsão otimista para o futuro.” (=Basta: “…fez uma previsão otimista”);
11. “O resultado do laudo, realizado pela Unicamp, será fornecido em uma semana.” (= Basta: “O laudo, realizado pela Unicamp, será…”);
12. “Esta cerca divide a Coreia em duas metades.” (= Basta: “…divide a Coreia em duas” ou “divide a Coreia ao meio”);
13. “O atacante tem de encarar de frente os zagueiros” (= Basta: “…encarar os zagueiros”).
E alguns ridículos: subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora, ambos os dois, hemorragia de sangue, dar marcha a ré para trás, trens ferroviários, localizado a 50m do local, empréstimo temporário, ganhe grátis, protagonista principal, metades iguais, evidência concreta …
Dúvidas:
1. O árbitro mandou repetir de novo a cobrança do pênalti;
2. O contrato foi prorrogado por mais dois anos.
3. A grande maioria é favor da sua contratação.
Dúvidas dos leitores
1ª) Ele tinha PAGO ou PAGADO a conta?
Aqui, você decide. Este assunto sempre provoca muita discussão. É a guerra dos particípios.
O particípio, que já foi chamado de particípio passado, geralmente termina em – ADO ou –IDO: falado, comunicado, empregado, vendido, perdido, partido, saído.
Alguns verbos irregulares apresentam formas diferentes: escrito, feito, posto, visto, aberto, descoberto.
O problema são alguns verbos que apresentam as duas formas: a regular (pagado, pegado, gastado e ganhado) e a irregular (pago, pego, gasto, ganho).
Há quem defenda o uso exclusivo da forma regular. Negam a existência da irregular. Para esses, deveríamos usar sempre: “ele tinha pagado a conta”, “ela havia pegado os documentos”, “o dinheiro já havia sido gastado”, “os pontos foram ganhados”…
Outros pensam o oposto. Dizem que as formas regulares entraram em desuso e que só deveríamos usar as formas irregulares: “ele tinha pago a conta”, “ela havia pego os documentos”, “o dinheiro já havia sido gasto”, “os pontos foram ganhos”.
Há uma terceira opinião. É a dos moderados, que aceitam as duas formas.
Se você quer saber a minha opinião, lá vai.
Estou com os moderados. Não vejo por que rejeitar as formas clássicas (pagado, pegado, gastado e ganhado) ou negar o novo, que principalmente no Brasil é uma realidade (pago, pego, gasto e ganho).
Quanto ao uso das duas formas, defendo a regra tradicional para os particípios abundantes:
1a) A forma regular só podemos nos tempos compostos (=com os verbos auxiliares TER e HAVER):
“Ele tinha pagado a conta.”
“Ela havia pegado os documentos.”
“Ele havia gastado o dinheiro.”
“Ele tinha ganhado os pontos.”
2a) A forma irregular pode ser usada com qualquer verbo auxiliar (SER, ESTAR, TER e HAVER):
“A conta foi paga”; “Ele tinha pago a conta”;
“Os documentos foram pegos”; “Ele havia pego os documentos”;
“O dinheiro já havia sido gasto”; “Ele havia gasto o dinheiro”;
“Os pontos estavam ganhos”; “Ele tinha ganho os pontos”.
Para terminar, outra observação. As formas “trago” e “chego”, como particípios, são inaceitáveis. Devemos usar apenas as formas clássicas: “Ele tinha TRAZIDO os documentos” e “ela já havia CHEGADO”.
Essa história de “ele tinha trago” ou de “ela havia chego” só se for piada.
2ª) INTERVIDO ou INTERVINDO?
“O juiz já havia INTERVIDO ou INTERVINDO no caso”?
Neste caso não há polêmica. O certo é INTERVINDO.
O verbo INTERVIR é derivado do verbo VIR. Deve, portanto, seguir o verbo primitivo:
Eu venho – eu intervenho
Ele vem – ele intervém
Eles vêm – eles intervêm
Nós vimos – nós intervimos (=presente do indicativo)
Nós viemos – nós interviemos (=pretérito perfeito do indicativo)
Ele veio – ele interveio
Eles vieram – eles intervieram
Eu vim – eu intervim
Se eu viesse – se eu interviesse
Quando eu vier – quando eu intervier.
Quanto ao verbo VIR, há uma curiosidade: é o único verbo cujo particípio é igual ao gerúndio:
“Eu estou VINDO de casa.” (gerúndio),
“Eu tinha VINDO de casa.” (particípio).
Portanto, se o particípio do verbo VIR é VINDO, os verbos derivados devem segui-lo: INTERVINDO, PROVINDO, ADVINDO…
A forma intervido simplesmente não existe.
3ª) COMPLETA ou COMPLETADA?
Muita gente acha estranho quando o Galvão Bueno diz: “quarenta voltas COMPLETADAS”.
Ele está certíssimo.
As duas formas existem, mas merecem uma observação quanto ao seu uso:
1o) COMPLETO é adjetivo. Deve ser usado quando qualifica um substantivo (=ao lado do substantivo ou após um verbo de ligação):
“Ele já deu duas voltas COMPLETAS.”
“A lista dos convocados já está COMPLETA.”
2a) COMPLETADO é o particípio do verbo completar. Devemos usar nos tempos compostos e na voz passiva:
“Ele tinha COMPLETADO quarenta voltas.”
“Quarenta voltas já foram COMPLETADAS.”
Paisinhos ou paisezinhos?
Mais uma vez, leitores do G1 criticam a posição intransigente de algumas bancas organizadoras de concursos. Hoje é a vez de Alberto José Rodrigues Coré, de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Vejamos o que ele nos escreveu:
“Eu e vários candidatos estamos sendo prejudicados por essa prática no concurso Petrobrás 02-2010, no qual não foi anulada uma questão. Foram enviadas dezenas de recursos, em que se utilizavam, em sua maioria, as dicas aqui postadas pelo prof. Sérgio Nogueira.
A questão é simples. A Cesgranrio afirma que existe a palavra “paisezinhos”, e o prof. Sérgio Nogueira, numa das suas Dicas aqui no G1, afirma que o plural correto é PAISINHOS. Nos recursos, foram apresentadas outras fontes, mas a Cesgranrio não anulou a questão.
Em todas as pesquisas feitas, não achei nada que justifique o plural “paisezinhos”. Temos também o apoio de um site especializado em gramática e em correção de provas de concursos, que também afirma que a tal questão deveria ser anulada.”
Vamos aos fatos.
Para a formação do plural de palavras no diminutivo, temos duas regrinhas:
1ª) Com o sufixo –INHO, basta pôr a desinência “s”:
livro+inho = livrinho > livrinhos;
caixa+inha = caixinha > caixinhas;
2ª) Com o sufixo –ZINHO, devemos pluralizar a palavra primitiva, cortar o “s” e colocá-lo no final:
papel+Zinho > papei(s)+Zinho+s = papeizinhos;
balão+Zinho > balõe(s)+Zinho+s = balõezinhos.
No caso de PAISINHO, devemos aplicar a primeira regra, pois o sufixo é –INHO (país+inho = paisinho). Assim sendo, o plural correto é PAISINHOS. Assim como acontece com casa+inha = casinhas; lápis+inho = lapisinhos.
O plural “paisezinhos” é um equívoco, que eu próprio o cometi nos meus primeiros livros, mas isso já foi corrigido há muito tempo. Se aceitarmos “paisezinhos”, teremos de aceitar também “lapisezinhos”, “tenisezinhos” e outras aberrações.
O que mais me impressiona no caso é o radicalismo dos componentes da banca da Cesgranrio. Isso me espanta, pois conheci aquela casa na década de 80, quando lá prestei alguns serviços.
Também me causa espanto a “gramatiquice” cobrada na prova. Não que eu seja contrário às questões que envolvam aspectos gramaticais.
Não defendo a velha gramática normativa, mas também não sou professor do tipo que aceita tudo ou qualquer coisa. A moderação sempre me fez bem. Detesto radicalismos, seja de direita ou de esquerda. Sempre fui contra os concursos que só cobravam gramática como se isso medisse a capacidade do candidato de escrever e de compreender o que lê. Sempre defendi a produção de texto, as questões de interpretação e de compreensão de texto, mas nunca fui contra a presença de questões que envolvessem aspectos gramaticais práticos, como ortografia, concordância, uso do acento indicativo da crase, uso dos verbos e dos pronomes…
Nas minhas Dicas de Português, publicadas aqui no G1, só fui radical num aspecto: a presença de questões polêmicas em nossos concursos. Isso é covardia. O candidato não precisa saber que o autor A aceita um plural e que o autor B aceita duas formas de plural. É uma questão subjetiva, pois professores, estudiosos, mestres e até doutores têm o direito de divergir, de ver a língua portuguesa sob ângulos diferentes.
Sejamos mais flexíveis. Não apenas na visão da nossa língua, mas, principalmente, na vida.
Dúvidas dos leitores
1ª) Deficit ou rombo?
ROMBO sugere sempre algo ilegal. Embora os dicionários não registrem a medida de dimensão, o uso consagrou ROMBO só para o que seria considerado “muito dinheiro”.
Um DEFICIT não é necessariamente ilegal e pode ser usado para quantias pequenas.
Oficialmente DEFICIT não tem acento agudo, embora praticamente todos os jornais prefiram DÉFICIT (com acento por ser proparoxítona, como se fosse uma forma aportuguesada). O dicionário Aurélio registra a forma DÉFICIT.
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado recentemente pela Academia Brasileira de Letras, registra a forma aportuguesada DÉFICE.
2ª) Passe ou assistência?
O uso do termo ASSISTÊNCIA é influência do inglês. É usado no basquete para definir o passe que resulta em cesta.
É um modismo.
Alguns locutores e comentaristas esportivos estão com a mania de usar o termo ASSISTÊNCIA até para PASSES que não resultam em gol.
Em bom português, principalmente em jogo de futebol, prefira PASSE. Só podemos usar ASSISTÊNCIA para passes que resultem em gol.
3ª) A GENTE VAMOS ou A GENTE VAI?
É uma questão de adequação da linguagem.
Leitor quer saber se A GENTE VAMOS não é uma figura de sintaxe ( = silepse) em que está subentendida a ideia de “nós” no coletivo “gente”.
Não há dúvida de que a ideia de “nós” está subentendida. O problema é o registro da fala em que a expressão A GENTE VAMOS é usada. É uma concordância característica da linguagem popular-vulgar.
É importante lembrar, no entanto, que qualquer concurso, inclusive os exames vestibulares, toma por base o uso culto da língua portuguesa.
A expressão A GENTE VAI apresenta uma concordância correta e é usada no nível coloquial da fala. Portanto, é perfeitamente aceitável em textos coloquiais.
Não é uma questão simplista de certo e errado.
Num texto mais cuidado, escrito com uma linguagem mais formal, não devemos usar nem uma nem outra: o melhor é dizer NÓS VAMOS.
4ª) Qual é a pronúncia correta: /Rorãima/ ou /Roráima/?
É outra dúvida que não deve ser tratada na base do certo e do errado.
No sul, todos nós falamos /Rorãima/, mas no norte é frequente a pronúncia /Roráima/. É uma questão de preferência. A TV Globo optou por respeitar a pronúncia local.
O mesmo ocorre quanto ao uso do artigo definido antes do nome da cidade “de” ou “do” Recife. Os recifenses fazem questão do artigo. Não custa nada respeitá-los, afinal eles sabem melhor que ninguém onde nasceram: foi NO RECIFE.
5ª) A expressão ENCARAR DE FRENTE está correta?
É uma redundância. Ninguém ENCARA alguém “de costas”. Basta ENCARAR.
É um caso semelhante a: “surpresas inesperadas”, “duas metades”, “ganhar grátis”, “planejamento antecipado”, “evidência concreta”…
6ª) A expressão A NÍVEL DE está errada?
A expressão “a nível de” não deve ser usada por vários motivos.
Primeiro, porque virou modismo. Tudo virou “a nível de”: “A nível de política, isso é inaceitável”, “A nível de gramática, a expressão está errada”, “Levou um chute a nível de joelho”, “Numa análise a nivel de ética, isso é inconcebível” ou “Eu enquanto pessoa, a nível de ser humano”, como diria o pessoal do Casseta e Planeta.
Outro aspecto é a preposição. Devemos usar EM NÍVEL.
Por fim, o mais importante: só podemos usar a expressão EM NÍVEL quando houver “níveis”. Observe alguns exemplos corretos:
“Este problema só poderá ser resolvido EM NÍVEL de direção”
“As decisões tomadas EM NÍVEL federal poderão gerar o consenso necessário às mudanças econômicas”.
7ª) ENSINÁ-LOS ou ENSINAR-LHES?
Depende. Eu posso ensinar alguma coisa (objeto direto) a alguém (objeto indireto) ou ensinar alguém (objeto direto) a fazer alguma coisa (objeto indireto).
No primeiro caso, “eu vou ENSINAR-LHES ( = objeto indireto) o correto uso dos pronomes ( = objeto direto)”.
Mas “eu posso ensinar os alunos ( = objeto direto) a ler ( = objeto indireto)”. Nesse caso, “eu posso ENSINÁ-LOS a ler.”
Não esqueça a regrinha:
Para substituir objetos indiretos, use LHE (LHES);
Para os objetos diretos, use O (A, OS, AS, LO, LA, LOS, LAS).
Dúvidas dos leitores
1ª) O ÓCULOS ou OS ÓCULOS?
O certo é: OS ÓCULOS.
Os meus óculos escuros caíram no chão.
Existem muitas palavras que devemos usar na forma plural: os óculos, as núpcias, os parabéns, os pêsames, as férias (= descanso), as reticências…
2ª) SÃO ou SANTO?
Por que SÃO PAULO, mas SANTO AGOSTINHO?
Depende da letra que começa o nome do santo.
Se for vogal, usamos SANTO: Santo Agostinho, Santo Inácio, Santo André.
Se for consoante, usamos SÃO: São Paulo, São José, São Bento, São Caetano, São Vicente.
Há exceções: Santo Domingo, Santo Toríbio, Santo Tomás de Aquino…
3ª) VOSSA MAJESTADE ou SUA MAJESTADE?
Devemos usar VOSSA MAJESTADE quando falamos diretamente com o rei.
Se falarmos a respeito do rei, devemos usar SUA MAJESTADE.
A mesma regra se aplica a VOSSA EXCELÊNCIA e SUA EXCELÊNCIA, a VOSSA SENHORIA e SUA SENHORIA…
Observe o esquema:
a) VOSSA MAJESTADE, VOSSA EXCELÊNCIA, VOSSA SENHORIA, VOSSA SANTIDADE – devem ser usados quando nos dirigimos diretamente à pessoa.
b) SUA MAJESTADE, SUA EXCELÊNCIA, SUA SENHORIA, SUA SANTIDADE – devem ser usados quando nos referimos à pessoa.
Exemplos:
Se escrevermos uma carta para o governador, devemos chamá-lo de VOSSA EXCELÊNCIA;
A frase “falamos sobre SUA EXCELÊNCIA ontem na reunião” significa que não estamos falando com o governador, e sim a respeito dele.
Se o repórter fosse entrevistar o papa, deveria usar VOSSA SANTIDADE. Na matéria a respeito da visita do papa, deveria escrever: “SUA SANTIDADE esteve no Brasil em 1997”.
4ª) MAJESTADE ou ALTEZA?
MAJESTADE pode ser tanto o rei quanto a rainha. ALTEZA é o tratamento para príncipes ou princesas.
Não devemos chamar a rainha de ALTEZA.
5ª) Qual é a forma correta?
a) “A doença foi totalmente ou parcialmente erradicada”?
b) “O preço do produto é alto ou caro”?
c) “A chuva é intermitente ou ininterrupta”?
Respostas:
a) Nenhuma das duas.
ERRADICAR significa “tirar totalmente”. Portanto, “TOTALMENTE erradicada” é redundante, e “PARCIALMENTE erradicada” é impossível.
Basta dizer que “A doença foi ERRADICADA”.
b) O certo é: “O preço do produto é ALTO”.
O preço é ALTO ou BAIXO; o produto é CARO ou BARATO.
Observe outros exemplos:
“O valor das ações está ALTO”, mas “Os imóveis estão CAROS”.
c) Depende da chuva.
Chuva INTERMITENTE é aquela que vai e volta;
Chuva ININTERRUPTA é a que não para.
INTERMITENTE significa “não contínuo, que apresenta interrupções”;
ININTERRUPTO significa “contínuo, que não apresenta interrupções.”
6ª) Lendário ou legendário?
Segundo nossos dicionários, LENDÁRIO e LEGENDÁRIO podem
ser usados como sinônimos. Observe as diferenças e semelhanças:
a) LENDÁRIO é derivado de LENDA (narrativa em que fatos
históricos são deformados pela imaginação popular ou pela invenção poética);
b) LEGENDÁRIO é relativo à LEGENDA (inscrição, dístico, letreiro,
vida dos santos, lenda).
Prefiro: “O LENDÁRIO fulano de tal…”.
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